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Pioneiras - parte 1

Atualizado: 30 de jan.


Montessori pelas janelas brasileiras.

Solange Leme de Oliveira


Sistema Montessori de Educação no Brasil:

Memória das Pioneiras nos

Cursos de Formação de Professores

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

São Paulo, 1999

Solange Leme de Oliveira


Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de MESTRE em Educação: Psicologia da Educação, sob a orientação da Profª. Dr.ª Mitsuko Antunes.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

São Paulo, 1999

Entrevista realizada com Talita de Almeida

O encontro com Talita de Almeida deu-se em seu apartamento, no bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro, nos dias 21 e 22 de Janeiro de 1999, sendo que a entrevista havia sido marcada com atecedência por telefone.

A entrevistada foi muito receptiva, chegando à extrema gentileza de hospedar a entrevistadora durante os dois dias necessários para a elaboração dos trabalhos. Nesse período também abriu a escola, da qual é mantenedora, para pesquisas, permitindo que a entrevistadora circulasse livremente.

As entrevistas aconteceram à noite, após o dia de trabalho passado na escola, o qual era bastante corrido para Almeida que acumula as funções de Diretora Presidente da Associação Brasileira de Educação Montessoriana – ABEM, Diretora Presidente da Organização Brasileira de Projetos Especiaias – OBRAPE e Diretora Geral do Colégio de Educação Infantil e Ensino Fundamental Constructor Sui – Campus Internacional Montessori.




Durante o dia, passado na escola, a entrevistadora conheceu os diversos ambientes onde se desenvolvem: atividades do colégio; cursos de formação de professores; gráfica que publica material especializado Montessori e reuniões da Associação Brasileira de Educação Montessoriana – ABEM, todos sob orientação direta de Almeida.

O prédio escolar, no bairro da Gávea, fica me meio a um terreno amplo e arborizado, com alamedas que tornam o espaço especialmente agradável.


Sobre a SUA FORMAÇÃO e PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS DE TRABALHO

Almeida concluiu o curso Normal, em 1955, no Instituto de Educação, no Rio de Janeiro, formando-se com distinção e logo assumindo uma classe na escola pública estadual.

Sou normalista do Instituto de Educação e me formei em 55, quando ganhei um prêmio, que era um prêmio de viagem. Aí, fui para os Estados Unidos e quando voltei fui ser professora (...) no subúrbio (...) da rede pública (...) estadual.

Além de lecionar, Almeida também desenhava material didático, habilidade que alevou a travalhar na TV Educativa.

Eu gostava muito de materiais, de jogos, pois meu hobby era desenhar. Eu era ótima desenhista. Digo eu era, porque agora não sou mais. Hoje, eu tenho outras habilidades (...). Naquela época, eu tinha uma empresa de confecção de material audiovisual, pedagógico. (...) Fazia as duas coisas: era professora e desenhista de material didático. Trabalhei em Bibliotecas e no Instituto de Educação, fui trabalhar na TV Educativa. Então, eu preparava “scripts“, cenários (...). Minha vida era muito interessante...


Almeida recebeu uma educação tradicional e teve sua mãe, que também era professora, como modelo de profissional que se empenhava e obtinha bons resultados no trabalho.

Eu me formei de uma maneira tradicional, mas achava tudo extremamente formal. Tive uma mãe que foi excepcional alfabetizadora, que era professora de 1ª série naquela ocasião. Mamãe (...) me ajudou muito com a experiência dela e tinha todo aquele paralelo entre nossas duas acões.

Eu achava que não era uma professora alfabetizadora; eu era uma professora que queria fazer outros caminhos, mas não sabia qual.

No entando, esse modelo de educação tradicional não era bem aceito por Almeida, principalmente no que diz respeito à severidade com que o aluno era tratado.

Sempre achei que as pessoas derespeitavam muito as crianças, no sentido das pessoas serem muito rigidas; as professoras eram sempre muito severas com as crianças. Apesar da minha mãe ser uma professora muito carismática, eu me lembro qu era uma educação sempre muito severa. Eu achava que podia ser diferente.

Outro ponto questionado no ensino tradicional era a ausência de possibilidade de opões para o aluno no decorrer das atividades pedagógicas e foi esse um dos aspectos que a encantou no Montessori.

(...) o Montessori oferece muitas possibilidades à criança: escolha, livre opção, trabalho independente (...) O que me encantou é que eu sou uma pessoa de muita liberdade (...). Não quero que ninguém mante em mim e não quero mandar em ninguém. (...) Sempre achei que não se precisa de ninguém que nos conduza, nos dê ordens (...) eu já acreditava nisso fortemente como professorinha de subúrbio. Eu achava que as pessoas têm o seu caminho, elas tém o seu querer. Então eu ter, por tradição, de mandar, eu ter que impor determinadas coisas, eu ter que marcar prova, eu ter que mandar parar de colar (...) era uma coisa que para mim não dava, não condizia com meu modo de sentir, de pensar, de agir.

(...) as provas vinham fechadas, lacradas (...) E eu achava que não era aquilo, mas também não sabia o que era. Eu tinha aquela insatisfação e falava para a minha mãe: “Como que você conseguiu viver a vida toda dessa forma?” E ela dizia: “É, mas eu tenho o meu método, a minha maneira, (...), que dá tão certo, como e porquê mudar?”.

Minha mãe me ajudou muito, (...) ela me explicava o trabalho dela (...) mas eu achava que a forma de educação como um todo não estava certa. Quando eu entrei na escola montessoriana e vi minhas filhas, trabalhando, livres, escolhendo... Eu disse: “Meu Deus é isso, é isso: essa opção, essa liberdade!“.

Complementando a educação formal no Brasil, Almeida fez o curso de Pedagogia.

Sobre o ENCONTRO COM MONTESSORI

O encontro de Almeida com o Sistema Montessori, em 1962, deu-se fora do Brasil, em Roma, e por motivos não relacionados à sua profissão de professora.

Inicialmente, o que lhe chamou a atenção, foi o material da classe infantil montessoriana que, com sua variedade, tanto em quantidade como em formas, pareceu tocar a sensibilidade da “desenhista de material pedagógico”.

Eu me casei e continuava a professora. Tive dois filhos e aí meu marido ganhou um prêmio de viagem à Europa, de 2 anos. Ficamos em Roma. Eu com dias filhas. O único local que elas podiam ficar, na idade delas:4 e 2 anos, eram escolas montessorianas e eu fui indicada pela embaixada. (...). Ao visitar uma dessas escolas, me encantei com o material, com a forma de trabalho das crianças; então, comecei a pedir para ir lá desenhar, que o meu objetivo ainda era desenhar material didático.

Para desenhar os materiais, Almeida passou a ir com freqüencia à escola, copiando os materiais e procurano entendê-los em seu uso pelas crianças. Nessa aproximação, foi convidada a participar, como aluna, do curso de formação de professores, o que aceitou a despeito de ainda não dominar totalmente a língua.

Comecei a desenhar os materiais e mandá-los para o Brasil, pois tinha uma fábrica de materiais. Não estava preocupada com Montessori em si (...). Eu ia diariamente à escola levar minhas filhas e, aí, para poder ter os modelos dos materiais, eu fui lá pedir ajuda nos modelos. (...). Enquanto as meninas estavam na escola, eu ficava lá copiando os materiais. Então eu comecei a ver, estudar estes materiais, mas com o objetivo de material concreto. (...) eu sempre desejei fazer um trabalho com material concreto. (...) até que eles me fizeram um convite para participar de um curso. Só tinha italianos, eram 60. Eu não falava bem italiano, que eu tinha recém chegado, mas decidi me inscrever.

O curso era só para professores. Eu entrei com meus diplomas, pois obtive reconhecimento deles e aí fui fazer o curso. Era a única brasileira, não falava italiano e aí fiz dois períodos de três meses. Foi minha primeira experiência [com Montessori] de 62/64 [1962-1964], porque eu trabalhei também lá. Ao terminar o curso, fui estagiar na escola. Como não podia trabalhar, pois era visitante e meu marido estava em prêmio de viagem, eu troquei meu estágio pelo colégio das meninas. (...) Então, eu fiz um estágio longo de quase um ano, lá com eles. (...) e aprendi muito fortemente (...). O curso Montessori é muito forte mesmo, apaixonante e forte. E a formação de lá é muito, muito profunda.

Esse curso de formação, feito em Roma, apesar de não ter reconhecimento da Associação Montessori Internacional – AMI, marcou Almeida de maneira profunda, a ponto de, posteriormente, ela voltar à Itália e seguir dois outros cursos, esses sim, reconhecidos pela AMI: o curso de Perugia e o curso de Bérgamo.

O curso de Roma era um curso oficial, de preparação de professores italianos, mas não era um curso reconhecido pela AMI, a entidade internacional. Eu fiz esse curso que me deu uma base de conhecimento muito boa. Eu já tinha uma base bem estruturada: eu tive um ótimo curso Normal, (...). Depois, esse período de curso (...) seis meses, foi, na verdade, de estudos profundos, seguidos de 1 ano de trabalho como estagiária (...).

Em 1964, Almeida retornou ao Brasil e iniciou trabalho de divulgação das idéias montessorianas, voltando à Europa em 1972/1973, quando fez estágio no Centro Montessori de Perugia com a Doutoressa Maria Antonieta Paoline.

Eu conheci Paoline em 72, com todo vigor, sendo tratada com reverência pelas crianças. Fui assistente do curso em 73.

Quando conheci Perugia e conheci a Signorina Paoline percebi um “ar de realeza” na relação. Apesar de amar as crianças, elas se apresentavam à Diretora com reverência, por ser ela descendente de família nobre. Isto era 73 e a Itália vivia um bom momento do movimento Montessori, quando os cursos tinham mais de 100 alunos de diferentes partes do mundo.

Em Roma, como uma das exigências do curso, Almeida escrevera um álbum sobre cada uma das disciplinas de uma classe montessoriana de educação infantil e ensino fundamental (de 3 a 12 anos), com os materiais, seus objetivos, suas características, técnicas de utilização e apresentação. Em Perugia, um de seus trabalhos no estágio era a correção de álbuns de outras professoras, de língua espanhola, que estavam fazendo o curso de formação.

Passei três meses em Perugia, assistindo as aulas e corrigindo os álbuns, tanto que eu sei corrigir em espanhol porque (...) eu corrigia o conteúdo, assinalava quando o conteúdo estava errado. (...) Eu sabia corrigir, pois escrevera os meus álbuns duas vezes. Escrevi em Roma, depois em Perugia. Nesses três meses revi todos os meus álbuns, porque tinha que corrigir os álbuns dos outros e não podia deixar passar conceitos errados.

Posteriormente, Almeida fez o curso de formação de professores em Bérgamo, tornando-se, conforme suas palavras, uma das poucas professoras no Brasil com diploma internacional em Montessori, em educação de 6a 12 anos.

Mais tarde, em Bérgamo eu reescreveria tudo novamente [referindo-se aos álbuns], porque não era permitido aproveitar nenhum curso. Tudo precisava ser original e escrito à mão, exigindo dias e noites de trabalho.

Em Bergamo, fiz o curso de 6 a 12 anos que é um diploma internacional. Dos diplomas internacionais no Brasil, que eu saiba, tem o meu, tem o da Vera [Lagôa] (...), tem uma moça chamada Diana Moelas, que também fez o curso de Bérgamo, tem elvira Gibson que fez o curso em Perugia e agora tem um diploma em São José dos Campos, também de Perugia.

(...) Então, no Brasil tem uns 5 ou 6 diplomas internacionais. Só.


Sobre os cursos de Perugia e Bérgamo, Almeida estabelece uma comparação:

Perugia é um curso muito bom. Muito forte, mas muito tranqüilo e Bérgamo não. Bérgamo tem Grazzine, que dá um curso meio despótico. Ele é meio irônico e gosta do “circo pegando fogo”. No curso de Bérgamo você tem que ter cultura, excelentes estudos, além de preparação moral, emocional e física para agüentar. Quando alguém me diz que vai para Bérgamo, eu falo: “Para pra pensar.” Porque Grazzine é uma pessoa muito exigente. Agora, é um belo professor! Ele dá uma aula de Geometria belíssima, ele dá uma Geografia inconfundível, ele dá aulas maravilhosas. Se você conseguir, (...) não ficar “na dele”, ou na “rede dele”, você faz um curso belíssimo. (...) você sai de lá num nível de cultura, com um nível de conhecimento incomensurável. Mas, você trabalha sem parar, (...). Você trabalha dia e noite, você não vai “à esquina”.(...)

(...) Bérgamo é o lugar em que mais se estuda Montessori no mundo e ele [Grazzine, o professor] sabe disso, por isso é arrogante. É uma pessoa que vive, come, dorme Montessori, acho que o lençol dele deve ser de folhas montessorianas. Então, ele tem um conhecimento que ninguém tem no mundo, mas ele precisava ter uma forma melhor de passá-lo, para que as pessoas não saíssem tão estressadas de seus cursos.

Sobre a VOLTA PARA O BRASIL e PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS DE

TRABALHO COM MONTESSORI

Ao regressar ao Brasil, em 1964, Almeida assumiu como professora de turma de Magistério. Continuou a confeccionar material pedagógico, aproveitando então sua vivência na Europa e iniciou os cursos montessorianos dirigidos a professores.

(...) Quando eu voltei (...) [fui] trabalhar no Estado pois já era professora de 2º grau. Nessa época, não estava mais com o 1º grau (...). Eu comecei a confeccionar material didático, (...) material concreto (...), comecei a ir a São Paulo, levar as apostilas montessorianas, participar dos cursos e aí houve contato mais concreto com São Paulo. (...) foi em meados de 64 (...)


Em 1968, sob responsabilidade de Almeida, foi iniciada uma experiência de educação infantil montessoriana, em um anexo ao Colégio Sacre Coeur de Marie, lá permanecendo por dois anos, até a fundação do Colégio Constructor Sui.


(...) dali a minha vida ficou com duas ações paralelas: uma com o Colégio que eu comecei em 68. O Construictor Sui começa em 68 como anexo montessoriano ao Colégio Sacre Coeur de Marie, em Copacabana, permanecendo ali por dois anos: 68 e 69. (...) eles me cediam [o espaço] por bolsas. (...). Funcionava num terraço (...) todo aberto, não tinha janela. (...) um terraço coberto. (...) Era uma delícia! (...)


A outra “ação” a que se refere Almeida, são os cursos de formação de professores, dados no Rio de Janeiro, desde 1965.


O “anexo” foi uma experiência inovadora, constando de uma classe de onde se agrupavam crianças de 2 a 5 anos de idade, em um espaço amplo, conforme a proposta montessoriana:


“Quando algumas de nossas professoras quiseram aplicar o critério duma igual idade na mesma classe, foram as próprias crianças a mostras as dificuldades daí derivantes. É, de resto, o mesmo que na família. Uma mãe pode ter seis filhos e governar a casa facilmente. As dificuldades começam quando há gêmeos ou grupos reunidos de crianças da mesma idade, porque é cansativo ter de tratar de pequeninos que têm necessidades das mesmas coisas...


‘A sociedade é interessante em virtude dos diversos tipos que a compõem. Um asilo de velhos ou velhas é uma coisa morta; é inumano e cruel pôr juntas pessoas da mesma idade. O mesmo se dá com as crianças, pois que, assim fazendo, quebramos o fio da vida social, tolhemos-lhe o alimento. Na maior parte das escolas há primeiro a separação dos sexos, depois das idades, mais ou menos uniformemente nas diversas classes. É um erro fundamental, que impede o desenvolvimento do sentido social.

Não é, todavia, tão importante juntar os dois sexos, que potem muito bm estar em escolas diferentes, como ter crianças de idades diferentes. As nossas escolas demonstraram que as crianças de idades diferentes se ajudam umas às outras; os pequenos vêem o que fazem os maiores e pedem explicações, que estes lhes dão voluntariamente. É um verdadeiro ensino, já que a mentalidade da criança de cinco anos está tão proxima da criança de três anos que o mais pequeno percebe facilmente do outro aquilo que nós não sabemos explicar-lhe. Há entre ambos uma harmonia e uma comunicação como bem raro existe entre adulto e criança pequenina.” (Montessori – c, s/d, p. 187-188)


Começamos de 2 anos até (...0 5 anos, mais ou menos. Já trabalhávamos com agrupamento naquela época. Tínhamos agrupamento de crianças de 2, 3, 4 anos para 5 anos. No segundo ano, as crianças com 6 anos já estavam alfabetizadas.

Foi totalmente pioneiro.

(...) as pessoas achavam um absurdo ter crianças de 2 anos, naquela época.


Em março de 1970 foi fundado o Constructor Sui


Em 1970, no dia 6 de março, às 8 horas da noite, nasce o Constructor Sui.(...) que quer dizer “construtor de si mesmo”, em latim, (...) numa casa da rua Saint Roman, 154, Copacabana, Rio de Janeiro.


O começo do Constructor Sui foi com algumas crianças provenientes do anexo do Sacre Coeur e crianças das redondezas, atendendo predominantemente uma clientela da classe media, “pais com nível universitário ou profissionais liberais de sucesso”.


Quando fomos para a [rua] Saint Roman, levamos alguns alunos e outros ficaram no Sacre Coeur. Depois vieram outras crianças e o ano de 1970 começou com uma escola lotada.


O Constructor já tinha uma boa fama, uma boa qualidade com o Escola Montessoriana. Aí fomos para a Saint Roman que era uma rua muito boa, uma rua de estrangeiros, uma rua sofisticada. (...) Tinha uma favela já na época, porém era uma comunidade de operários, de garçons, de pessoas que trabalhavam no comércio de Copacabana.


Em pouco tempo começamos a ter crianças de 1 ano. Eu me lembro que as avós ficavam embaixo, reclamando com a gente, dizendo: “Vocês são uns comerciantes, criança de 1 ano tem que estar em casa...” Mas o Constructor Sui era super famoso, a gente inha um setor de Psicologia que foi o máximo. Eu digo ‘foi’porque o Constructor teve muitos problemas na Saint Roman, porque nós pegamos a degradação do morro. Então o Constructor se mantinha como uma escola de elite no meio de uma favela, que crescia desordenada e perigosamente.


Em 1974, em um outro espaço, Almeida iniciou um trabalho com crianças de um ano de idade, com um enfoque pedagógico, diferente do que era o usual, naquele tempo, no atendimento a criançås dessa faixa etária.


Nós criamos o Nido fora dali em 1974. Foi no Jardim Botânico. Era uma escola linda, um berçario, (...) tudo em decorrência de um congresso. Foi um trabalho super pioneiro, porque existiam as creches, mas de uma forma muito improvisada. A nossa era uma creche com professoras desde o início (...) o Nido nasce como escola de bebês, coordenada por uma especialista chilena - Nancy Diaz Lareñas.


Atualmente, todo o trabalho está concentrado no bairro da Gávea, Rio de Janeiro.

Em outubro de 1975, Mario Montessori, que na época era o diretor geral da Associação Montessori Internacional, em carta para outra professora brasileira que havia feito o curso em Perugia, citou o nome de Almeida, como uma educadora que estava se preparando para ser uma professora reconhecida pela Associação Montessori Internacional, e que, uma vez concluído o treinamento, poderia organizar um curso no Brasil que receberia o aval da AMI.

Os cursos de formação de professores dados no Colégio Constructor Sui recebem o reconhecimento do Estado do Rio de Janeiro, mas não o da AMI, que não reconhece curso algum no Brasil até hoje. Porém, em 1974, foi fundada a Associação Brasileira de Educação Montessoriana, ABEM, com o aval do Mario Montessori.

Sobre a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MONTESSORIANA – ABEM


[A ABEM] foi fundada em 1974, a pedido do Mário Montessori. De sua fundação existe até documentação da revista Presence.


Apesar de ser uma associação, paradoxalmente, o principal objetivo da ABEM, não é o de congregar escolas montessorianas, mas o de divulgar as idéias de Montessori e fortalecer o movimento entre educadores.


(...) eu nunca pretendi congregar escolas, porque eu não tenho nenhum dom para lidar com pessoas em grupo (...) e uma associação significa um grupo de pessoas e dentro de uma associação tem sempre problemas de poder, (...).


A entidade ABEM foi criada com o objetivo de fortalecer, de dar corpo ao Montessori e interligar-se a entidades internacionais.


A nossa idéia sempre foi de divulgar o Montessori, de torná-lo conhecido e leválo aonde fosse possível. Cansamos de distribuir material para bibliotecas, escolas, associações, (...). Então o nosso objetivo nunca foi de congregar escolas, nosso objetivo sempre foi a capacitação de professores e sempre foi a divulgação; isto é, levar o mais longe possível a idéia do Montessori, E nós continuamos dentro dessa meta (...).


A Presence foi a “revista oficial da Associação Brasileira de Educação Montessoriana”, que teve três publicações: a de número 0, edição experimental; a de número 1 e a de número 2.

Na revista de número 0, na página 1, encontra-se a “Certidão de Nascimento”da ABEM,

“Nos termos (...) aqui reproduzidos, cujo original está assinado pelo próprio Mário Montessori, com data de 17 de outubro de 1973, (...):


“Certifica-se que a Sra. Talita de Almeida esta incumbida por essa Associação de funda, no Brasil, uma Associação Montessori que defenda e propague os valores do pensamento e da obra de Maria Montessori”

‘Si certifica che qcom durata fino al 1973, la Sig.ra Talita de Almeida estata incaricata da questa Associazione di fondare nel Brasile uma Società Montessori che difenda e propaghi i valori del pensero e dell’opera di Maria Montessori. (...).


As duas primeiras publicações da revista Presence deram-se no ano de 1976 e a terceira e última em 1983, cessando, então porque a pessoa responsável faleceu.


(...) nós paramos na ‘2’porque a pessoa que nos ajudava faleceu e (...) nós continuamos ocm outras iniciativas, informativos, etc. Agora, (...) estamos tentando fazer um trabalho mais forte ligado ao educador, ao professor. Porém, o grande problema é que o trabalho ligado ao professor passa pelas escolas, às vezes, o diretor não repassa as informações. Por exemplo, nós estamos fazendo o “Fax – Informa”, (...) já saíram quatro números nós sabemos que eles não chegaram aos professores. Estamos procurando novos caminhos e vamos transformar esses números que saíram (...) em Coletânea e tentar fazer chegar estes textos às pessoas em diferentes partes do Brasil.


No entanto, apesar de certificado para a abertura, a ABEM não tem o reconhecimento oficial da AMI.


(...) ninguem na América Latina tem o reconhecimento da AMI.


A ABEM é apoiada por uma outra instituição, a Organização Brasileira de Projetos Especiais – OBRAPE, que iniciou suas atividades em 1968.


A ABEM caminhou paralela à OBRAPE, (...) todo o trabalho da ABEM foi feito com o apoio da OBRAPE (...).


A OBRAPE nasce em 1968, como entidade sem fins lucrativos organizando os cursos. Só em 1980 torna-se mantenedora do Colégio Constructor Sui. Hoje, a OBRAPE tem finalidades educacionais, culturais, sociais e ecológicas.


Tanto a OBRAPE, como a ABEM continuam ativas, sendo que essa última estendeu suas atividades para o México e Estados Unidos, onde utiliza o nome de Brasilian Montessori Society – BMS.


Mas, a ABEM continua sempre trabalhando a parte toda de publicações, de divulgação e de contatos (...) Nos Estados Unidos também nós a levamos (...) representada internacionalmente como BMS: Brazilian Montessori Society. E aí ela tem se feito representar, tanto no México, no Chile, quanto nos Estados Unidos. E mesmo aqui a gente usa muito a sigla BMS – Brazilian Montessori Society. Então usamos as duas siglas: a ABEM – Associação Brasileira de Educação Montessoriana e BMS - Brazilian Montessori Society.


Almeida começou a dar cursos de formação de professores no Sistema Montessori em 1965.


Os cursos (...) montessorianos começaram em 65 (...). Era numa escola. Alugávamos o espaço no horário da tarde e tinha todo o material que íamos comprando, elaborando... Durante dois anos, demos curso, depois fomos para o Sacre Coeur porque as freirinhas foram fazer curso conosco. Aí elas ficaram encatadas, nos convidaram a ir ao Sacre Coeur, quando nos ofereceram para o usar um espaço que era o terraço.


Nós formamos professores desde o começo. (...) nessa entressafra de 64 para 68, quando abrimos o (...) Anexo [refere-se à classe de educação infantil, anexa ao Colégio Sacre Coeur], nós demos cursos no Rio de Janeiro e todos os montessorianos da época sabiam e usufruíram.


Em 1968, ao iniciar o trabalho no Anexo, Almeida, na função de diretora do curso, já contava com professoras com conhecimento sobre o Sistema Montessori.


Todas as nossas professoras de 68 foram formadas por mim. Eram todas solteiras naquela época. Todas elas tinham um alto nível, porque todas faziam Pedagogia, o que era raro naquela época. (...)


Trabalhávamos muito com as crianças, mas [eu] já tinha a função de diretora (...). Eram todas muito jovens, tinham 20, 21 anos, 22 anos. Foi um grupo muito bom que me acompanhou durante muito tempo.

(...) quando elas começaram todas tinham feito curso Montessori de 1 ano comigo.


Até hoje, a formaçnao do professor, no Constructor Sui, continua recebendo uma consideração especial.


O nosso grupo está sempre estudando, sempre com metas, sempre com cronograma, sempre buscando. (...)


Para Almeida, a formação do professor montessoriano deve ser contínua.


Eu tenho colocado muito: toda escola deveria ter uma biblioteca montessoriana e acho que toda escola deveria ter um centro de capacitação.


As pessoas que fizeram os cursos montessorianos no início do mocimento foram muito bem preparadas, mas precisam continuar se reciclando continuamente. As bases montessorianas não mudam, mas a visão do hoje exige grandes adaptações.


Almeida aponta a questão da formação do professor como crucial no Brasil, criticando sua precariedade e confrontando-a com a formação recebida pelo professor montessoriano no exterior.


O grande erro do Brasil é o de formação. Quando você faz a formação montessoriana no exterior adquire uma certeza inabalável nos princípios, que vão nortear toda a sua ação na vida. É uma segurança, um comprometimento.


No entando, cirtica também os educadores montessorianos do Brasil ou do exterior que assumem uma postura rígida tanto em relação ao uso do material, como na sua relação com as crianças, postura essa que, na sua opinião, não vem dos princípios do Sistema, mas de uma cultura da Europoa vitoriana.


As pessoas confundem princípios com rigidez. (...). No Montessori aparece muito rígida a relação adultos/criança (...) essa coiosa do “não toque”. O Montessori tem, ou tinha, esse “não toque” porque são pressões do início do século. O professor com o avental tendo dois bolsos para não tocar as crianças (...). Educação arcaica! A ser repensada segundo os verdadeiros princípios montessorianos.


O cursos dados, seja pela OBRAPE, seja pela ABEM, percorreram o Brasil, atingindo grande número de educadores, tanto da rede particular como da rede pública.


Nós faziamos cursos no brasil todo e (...) também aqueles congressos monumentais de 73,74, 80, 83 (...) porque a idéia era realmente levar o Montessori, não à rede pública [como um todo}, mas ter experimentos nessa área, inclusive com crianças carentes.


(...) Fizemos um trabalho muito bonito, em Mato Grosso, na época em que era um estado único. (...) Foi chamado até: o “Infantil do Bom Senso“. Nós implantamos Montessori em rede pública, naquele Estado. Foi na cidade de Cuiabá. Depois, nós tivemos salas em Campo Grande. Foi um trabalho grande, porque havia um Secretário de Educação que pretendia inovar.


(...) Recife, tinha cursos que eram o mês todo de Janeiro. Eram 5 etapas, que, na verdade, davam 5 meses, mas ele era “profundésimo”. O pessoal ia fundo no estudo, preparando-se de um ano para o outro. Ele tinha pré-requisitos e as pessoas iam buscando, pouco a pouco construir seu conhecimento. Foi um grande grupo. Mais de 2000 cursistas.


Almeida apontou diferençås entre os professores que procuravam o curso há alguns anos atrás e os professores que se matriculam atualmente.


O que eu sinto hoje é o seguinte: as pessoas vêm muito sem cultura. (...) acham que você fala difícil. Eu não falo difícil, acho que eu tenho um coloquial até bastante fácil, e aí você fica... [expressão facil indicando pasmo] E eu vou baixar o nível? E o nível dos professores que contratamos?


Em relação aos cursos de divulgação e os cursos intesivos de formação, Almeida percebe as pessoas menos disponíveis em termos de tempo para estudar, o que levou a uma simplificação dos cursos, ou à estratégia de dividi-los em vários encontros. Mesmo assim, muitos professores não assistem a todos os encontros, por julgarem que alguns assuntos não snão tão importantes. Por exemplo, os módulos que tratam dos materiais de Língua Porguesa e Matemática são concorridos, o mesmo não acontece com os módulos que tratam de Estudos Sociais ou Geometria.


Bom, no início (...) os cursos eram mais consistentes. Tanto aqui como os cursos de verão de Recife. As etapas eram mais puxadas. Sinto, por exemplo, que tudo reduziu: hoje em dia as pessoas telefonam e pedem um curso de 12 horas, 14 horas, ....


Em 14 horas pode-se dar Sensorial? Não se consegue dar Sensorial em 14 horas! Aliás, não se consegue despertar o conhecimento nestas poucas horas.

(...) No ano retrasado, demos um ano de curso no Norte do Brasil. E as escolas mandaram muitos professores. Nós trabalhamos com quase 100 pessoas no curso. Nós fizemos várias etapas. (...) Quando chegou na etapa de Estudos Sociais, foram muito menos [pessoas}, porque eles não consideram Estudos Sociais importante.

Só que Estudos Sociais, para Montessori, são o fio condutor, porque é a História da Vida, a história da vida pessoal, história da vida nacional, a história da vida planetária. Então, é essencial o conceito de tempo, o conceito de espaço no Montessori e as pessoas não ligam porque estão em cima da Linguagem, da Matemática. Geometria, então, ninguem quer saber e Geometria é super importante, pois redimensiona os conceitos matemáticos e topológicos e estimula o hemisfério cerebral direito...


Alem de cursos de divulgação do Sistema Montessori e cursos intensivos, Almeida mantém, no Constructor Sui, o Magistério em 3 e 4 anos, sendo esse último, a especialização em educação infantil.


Nós temos: o curso Normal, que é Magistério, com 3 anos. (...). Com 3 anos e 4 anos. Com 4 anos temos a especialização pré-escolar. (...) Esse pré-escolar é montessoriano.


Não são muitos alunos, não. (...). Temos formação de professores montessorianos de 1º grau e pré-escolar 2 anos, para quem não fez 2º Grau – Magistério.


O curso funciona durante todo o ano letivo, das 15h às 19h, diariamente, com uma carga horária para estágio bastante extensa: 900 horas. As classes têm poucos alunos.

No currículo desses cursos, Almeida impôe a ênfase montessoriana, fazendo com que as alunas trabalhem com o Sistema Montessori em atividades práticas: desenvolvendo a capacidade de observação, aprendendo a cuidar do material, a preparar o ambiente de sala de aula, a confeccionar material e, segundo suas palavras a “cuidar amorosamente de seus alunos”.


São 2 anos inteiros. E aqui nós temos o de 1º grau, do qual eu falei para você que não temos 10 formadas em 1º grau, que também [é um curso de] 2 anos.

Nós funcionamos de 3 às 7 da noite, diariamente.


Cada grade tem uma aprovação. O estágio é longo, por ser exigência legal. (...) Temos o estágio também lá do colégio mas, quando os professores trabalham, aproveitamos o estágio no seu local de atividades. E aí, nós vamos lá [na escola onde o professor estiver fazendo o curso trabalha] ver a aula e avaliá-la. Tem uma pessoa q analisa (...) que vai observar e dar orientação, isto é, fazer a supervisão às pessoas, verificando o que estão fazendo. A gente sempre mantém contato com os alunos, encaminhando sempre tudo o que a gente sabe.


Com as mudanças propostas pela LDB/97 para o 2º grau, o curso poderá ter algumas alterações. Até o momento, os(as) alunos(as) ao se formarem, recebem dois certificados: um com validade oficial e outro conferido pela ABEM.


Os cursos estão funcionando normalmente. Têm valor [reconhecimento oficial como curso de 2º grau], tem tudo certinho. Agora vamos ver como é que os cursos ficam esse ano [refere-se ao ano de 1999]. (...). Os(as) cursistas recebem 2 certificados: um que é reconhecido pela Secretaria de Educação, pré-escolar ou 1º grau e outro que é dado pela ABEM, de formação montessoriana.


Para Almeida é necessário um respaldo maior aos cursos de formação do educador no Sistema Montessori. Esse respaldo seria dado através da legalização do curso de formação montessoriana, de maneira semelhante à que ocorre com a American Montessori Society, AMS, ou com a Associação Montessori Internacional, AMI, na Europa.


Eu acho que o Brasil precisa ter legalizada a formação montessoriana. Precisa ter (...) exames de suficiência, como tem os Estados Unidos. Não tem ninguém na Europa, nos Estados Unidos, nos demais continentes, que não tem formação oficial, adequada. CONTINUA...

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