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SOS Família - A criança ama os adultos


Hoje, todos falam da importância das famílias no desenvolvimento da criança na formação de

uma personalidade autêntica e harmônica.

A criança hoje, desenvolve-se com rapidez, acompanhando as mudanças e conquistas da era

tecnológica, porém o homem-essência talvez não esteja desenvolvendo todas as suas

capacidades motoras, afetivas e cognitivas.

O capítulo II do livro “Montessori em família“ resultante de conferências realizadas por Maria

Montessori em Bruxelas vem trazer, com grande atualidade, uma alerta à conduta do adulto.

O texto ressalta que poderíamos viver melhor se não desperdiçássemos nosso tempo com a

preguiça. E que a criança nos ajuda a despertar de nosso torpor. Então vamos à leitura:


Professor de Amor


A criança é extremamente sensível a tudo o que parte do adulto, e quer obedecê-lo em tudo. Na verdade nós não podemos avaliar com que gradação ou perfeição a criança está sempre pronta a obedecer; sendo, em verdade, o que caracteriza a criança em sua relação com o adulto. Uma criança, um dia colocou os chinelinhos na cama e sua mãe lhe disse: "Não faça isso, chinelos são sujos!", e limpou com suas mãos a colcha da cama. Depois disso, toda vez que o garoto via um chinelo, exclamava "É sujo!" e começava a limpar a cama.


O que queremos mais? A criança é impressionável e sensível a tal ponto que o adulto deveria pensar antes de cada palavra, cada gesto, pois tudo é literalmente gravado na mente da criança. Ela é toda obediência, pois obedecer faz parte da sua vida, e ela ama e venera o adulto de cuja boca jorra sabedoria que o orientará toda sua vida. Diante de um "capricho" deveriamos parar e pensar que um aparente "mau comportamento"possa ser nada mais nada menos que uma necessidade vital na personalidade infantil, ou então uma forma de defesa. Não devemos nos esquecer que a criança está sempre pronta a nos obedecer e amar.


As crianças amam os adultos. Este é o aspecto pelo qual devemos analisá-las. No entanto, vivemos falando o quanto os pais e professores amam suas crianças. Pessoas chegam até a dizer que as crianças deveriam aprender a amar a seus pais, professores, isto é, a todos que estão a sua volta. E quem as ensinará a amar? Aqueles que julgam como um mau comportamento tudo o que a criança faz e que a vivem punindo? Nenhum adulto pode vir a ser um "professor de amor"sem que faça um exercício especial, sem que que abra os olhos da consciência para enxergar um mundo melhor e mais vasto que o seu.


Sim, as crianças amam os adultos profundamente! Quando uma criança vai para a cama, deveria fazê-lo em companhia de alguém que ela ame. Mas nós pensamos: "Devemos dar fim a este absurdo! Assim ela vai ficar mimada demais!" ou então "Se o bebê quiser vir para a mesa conosco e chorar, se não o levarmos, devemos fingir que não vamos comer!". Mas, a criança apenas deseja estar junto daqueles a quem ama; ela quer compartilhar da mesa da família, mesmo que a sua refeição ainda seja restrita. Ela vai parar de chorar se for trazida à mesa e se ela não o fizer, será porque ninguém lhe deu atenção. Ela quer fazer parte do grupo.


Quem mais choraria só parar poder ficar junto de nós? E com que tristeza a criança descobrirá mais tarde, que ninguém chora para tê-la junto de si, que as pessoas quando cão se deitar, só pensam em si mesmas e nas coisas que fizeram durante o dia. Somente uma criança se lembraria de dizer, ao se deitar "Não vá embora, fique comigo!". Apelos como este, costumamos responder: "Eu não posso, tenho muito o que fazer. Além do mais, que capricho é este?". Os adultos pensam que a criança deve ser corrigida, do contrário fará todas as pessoas seus escravos.


Às vezes, a criança se levanta cedo e vai acordar o pai e a mãe que queriam ficar dormindo até mais tarde: este é um capricho que todos se lamentam. Mas, este gesto é puro e inocente; a criança apenas faz o que todos deveriam fazer. Quando surge o sol, tudo desperta, mas os homens ainda dormem. O ato de acordar os pais pela manhã seria como se a criança estivesse dizendo "Vocês precisam aprender a viver! Venham, a manhã nos chama!". A criança não tem pretensões de ensinar aos pais; ela faz isto apenas porque os ama. Uma vez desperta, ela corre para eles, atravessando a penumbra dos aposentos e portas fechadas. Ela vai talvez tropeçando, mas sem temer as sombras e as portas, encontra seus pais, e os toca levemente. Em geral, eles lhe responderiam com estas palavras "Não gosto de ser acordado de manhã cedo!", ao que a criança diria "Mas, eu não quis acordar vocês, eu apenas os beijei.". E os pais ficam pensando na maneira de impedir que a criança façå isso. Quando, no decorrer da vida, acontecerá que uma pessoa, ao acordar, deseje correr para nós, superando todas as dificuldades, sem intenção de acordar-nos, mas somente para ver e beijar aquele a quem ama? Quem faria isso por nós?


Nós apenas dizemos que isto deve ser corrigido na criança, e, no entando, estes momentos de amor não nos são indiferentes. A criança que ama, desperta os pais, não só de manhã, mas também para a vida. Temos uma tendência à preguiça e ao sono, e, com a chegada de uma criança em nossas vidas, sentimos que algo nos desperta e nos mantém acordados; vemos um pequeno ser que opera de maneira bem diferente da nossa, como se nos dissesse "Vejam, existe outra maneira de viver! Vocês podem viver bem melhor!"


Poderíamos viver melhor se não desperdissássemos nosso tempo com a preguiça. E a criança nos ajuda a despertar de nosso torpor. Se o adulto não tentar acordar, estará pertido; aos poucos, ele se reveste de uma dura crosta e vai se tornando insensível.


Do livro “ Montessori em Família” Maria Montessori Editora Portugália, págs. 23 a 25)

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